Um Brasileiro na Ferrovia Americana (Entrevista com Genilson Norfolk):
Lucas Evaristo (Brasil Ferroviário): Boa Noite Genilson. É muito bom conversar com você sobre o tema ferrovia, já que você tem experiência internacional sobre o assunto, onde você já trabalhou e trabalha atualmente (empresa e local)?
Genilson: Boa noite Evaristo. É um grande prazer conhecer e participar desta entrevista. O tema ferrovia é ótimo. Bem, eu vou explicar um pouco sobre o minha carreira na ferrovia, desde o Brasil até aqui nos EUA.
Lucas Evaristo (Brasil Ferroviário): Tudo bem!
Genilson: No Brasil 🇧🇷, entrei na vale em 2011 através do programa de formação profissional (PFP), onde inicialmente tivemos duas etapas profundamente rígidas de processo seletivo.
Primeiro, fomos aprovados no processo e ficamos treinando por 3 meses no SENAI. Depois, fomos para a parte prática no pátio da Ferrovia Carajás, em SLZ, onde aprendemos (curso) sobre operação ferroviária. Na parte de pátio de recepção, aprendemos sobre desmembramento de trens que chegavam carregados de minério da Carajás. Havia uma separação de lotes de 110 vagões e eram retiradas as locomotivas remotas (locotrol) que faziam parte do trem.
Sobre os pátios de classificação de vagões, aprendemos a separar vagões carregados que tinham necessidade de ir para a manutenção, pois haviam sofrido avarias no trecho (durante a viagem).
Lucas Evaristo (Brasil Ferroviário): Certo. Funções do pátio de classificação em geral.
Genilson: Então depois ficávamos no pátio de formação, onde recebíamos os lotes que estavam descarregados e liberados pelo controle de operações (classificação), durante o primeiro estágio da formação do trem.
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Vou explicar, recebíamos a tração que estava liberada pela manutenção pela oficinal central (em SLZ), e juntávamos com os lotes que estavam disponíveis para a circulação (pela classificação), a partir dai os lotes já estavam montados.
Lucas Evaristo (Brasil Ferroviário): Esses 3 lotes eram de vagões vazios ou carregados?
Genilson: Vazios logicamente, minérios (vagões) vazios, em que eram colocados as locomotivas A e B, com conexão remota. Estou te explicando meu trabalho no pátio.
Lucas Evaristo (Brasil Ferroviário): Sim. Nesta época você ocupava qual cargo/função?
Genilson: Oficial de Operações. Continuando… E o trem era liberado pra partir para trafegar na Carajás assim que era realizado o teste de cauda (testes preliminares).
Lucas Evaristo (Brasil Ferroviário): Na Vale este é o cargo ocupado antes de maquinista, correto? (Oficial de Operações)
Genilson: Sim, fiquei no período total de 6 meses no circuito de minério de ferro.
Lucas Evaristo (Brasil Ferroviário): Oficial de Operações é como se fosse o cargo de auxiliar de maquinista, certo?
Genilson: Na verdade atualmente não sei como está, mas no meu tempo era Oficial de Operações, Maquinista de Pátio e Maquinista de Viagem. Não existia esse cargo de auxiliar de maquinista, não sei do que se trata.
Lucas Evaristo (Brasil Ferroviário): Que aula! Mas como ocorreu a virada para os EUA?
Genilson: Bem, fiquei 2 anos na Operação Ferroviária da EFC (VALE), então eu sai para estudar o inglês e fiz um curso de logística. Após 1 ano fui para os EUA e trabalhei na FTL no Porto (também na Operação Ferroviária).
A oportunidade de ir para os EUA iniciou-se com o convite do meu atual gerente de operações da FEC, o Scott.
Lucas Evaristo (Brasil Ferroviário): O Scott é Brasileiro ou tem nacionalidade?
Genilson: Não. Americano.
Lucas Evaristo (Brasil Ferroviário): Você atualmente está lotado em qual estado dos EUA?
Genilson: Flórida, na FEC.
Lucas Evaristo (Brasil Ferroviário): Conte mais sobre o começo, quando você chegou ai…
Genilson: Primeiramente fiz um processo seletivo para condutor de Railroad, através do Railroad Education Program da Flórida East Coast Railway (onde obtive aprovação).
Lucas Evaristo (Brasil Ferroviário): Wow!
Genilson: Fiz todos os processos necessários da FEC em 2016 e em 2017 recebi uma habilitação do governo com aprovação do HB1. Desta forma, fui autorizado a conduzir pelos EUA.
Fiz prática de operação como condutor no cargo de Raílroad Conductor, No Sul da Flórida em Fort Lauderdale e Miami, na área do Porto. Atualmente fico em Jacksonville, onde fica nossa central de operações FEC (NetWork).
Lucas Evaristo (Brasil Ferroviário): FEC é?
Genilson: FEC é Flórida East Coast Railway, na verdade é FECR.
Lucas Evaristo (Brasil Ferroviário): Certo, continue.
Genilson: Hoje estou atuando na área de análise de operações, sou analista e acompanho a turma de engenharia. Trabalhamos como suporte no processo de segurança operacional nos pátios e Fildrails. Trabalho neste cargo há 1 ano e 4 meses.
Lucas Evaristo (Brasil Ferroviário): Basicamente um profissional do ramo de logística, certo?
Genilson: Sim, aqui na América também existe o chamado faz tudo, que sou eu.
Lucas Evaristo (Brasil Ferroviário): Certo.
Genilson: Também fica na área de envio de produtos de cargas perigosas e exportações para a circulação e nossas linhas. Trabalho com produtos importados do Brasil e que são distribuídos pela Flórida, Alabama e Texas.
Lucas Evaristo (Brasil Ferroviário): Posso partir pro segundo assunto ou há algo a ser adicionado ainda?
Genilson: Pode sim.
Lucas Evaristo (Brasil Ferroviário): Vou fazer agora a pergunta que todo brasileiro que sonha em ser ferroviário nos EUA gostaria de fazer, quais são os requisitos mínimos para adentrar na ferrovia americana?
Genilson: Os requisitos mínimos são, dominar a área ferroviária a qual você está buscando, dominar a língua inglesa (americana) ou o espanhol, dependendo do estado que você irá trabalhar.
Buscar as empresas norte-americanas através das oportunidades nos websites das companhias. A exemplo da CN,CÁ, CSX, FECR, Norfolk Southern, BNSF e Union Pacific e as Shortline.
Lucas Evaristo (Brasil Ferroviário): Short Line são ferrovias de trecho curto, é isso?
Genilson: Sim, fazem pequenos translados.
Lucas Evaristo (Brasil Ferroviário): Quais as principais diferenças entre trabalhar e estudar ferrovia no Brasil e nos EUA?
Genilson: A diferença é grande Lucas, mas as pessoas se esquecem do potencial do Brasil, esse país tem muito potencial para a ferrovia, mas precisamos nos atualizar para atingir um bom patamar. A grande diferença está em tecnologia e inovação. Atualmente nos EUA o governo investe muito na área ferroviária, base de bilhões. Logística e demais transportes recebem bastante também.
As empresas são amplamente reconhecidas por inovar em seus setores, a exemplo, vagões, via e etc. Os EUA possuem atualmente algo próximo de 832 operações, sem contar as shortlines.
As ferrovias aqui são dividas por classes, classe 1, classe 2, classe 3 e etc, exemplo, classe 1 são as Railway de alto movimento de cargas geral, como BNSF, CSX, FECX, UP SP
Lucas Evaristo (Brasil Ferroviário): Você fala em velocidade que a via pode atingir com base em seus níveis de material rodante e manutenção de via, certo?
Genilson: Não exatamente. Classe 2 são as Shotlines que são “Helm Finacial Cop”.
Classe 3 são os trens de passageiros, que são operados pela Amtrak (empresa) e outras estatais. Exemplo, aqui na Flórida temos três trens de passageiros, Amtrak, US Rail e a Bright Line Trail Rail.
A Amtrack roda os EUA todo. As outras duas estatais só rodam aqui na Flórida. Somando todas as ferrovias, elas não deixam uma cidade por aqui sem transporte por trem.
Lucas Evaristo (Brasil Ferroviário): Ah, sim!
Genilson: Ainda existe a divisão entre Railroad e as Railway. Railroad é uma ferrovia estadual e a
Railway é de alta velocidade. Todas administradas pela Federal Railroad Administration. O Federal Railroad Administration é uma estatal que fiscaliza as ferrovias, é como se fosse a VALEC no Brasil.
Lucas Evaristo (Brasil Ferroviário): Correto.
Existe também a Surface Transportation The Bord, que faz a regulamentação da logística e dos transportes em geral.
Lucas Evaristo (Brasil Ferroviário): Rodoviário e Ferroviário?
Genilson: Sim.
Lucas Evaristo (Brasil Ferroviário): Agora entendi.
Genilson: Então, por aqui, o Estado investe muito em ferrovias. A GE e a GM são pioneiras na fabricação das locomotivas atuais. O Brasil tem de tudo pra ser uma potência na ferrovia, basta investimento em educação, logística, mobilidade e segurança operacional. Este é meu ponto de vista sobre o Brasil.
O Brasil tem de tudo, territórios, maior da América Latina. Se o governo investir na ferrovia, a economia vai triplicar, reduzir fluxo e acidentes na rodovia, gerar emprego e desenvolvimento. Para mim o Brasil poderá dobrar seu desenvolvimento.
Lucas Evaristo (Brasil Ferroviário): A última pergunta, pois sei que seu tempo por aqui é corrido. Quando você chegou nos EUA, você sentiu alguma rejeição por ser brasileiro ou você foi acolhido de forma imparcial?
Genilson: Sobre isso, fui bem recebido, e até hoje eles têm um grande respeito por mim e eu por eles. Eles amam o Brasil e sua cultura. Acima de tudo somos profissionais, eles aprendem comigo e eu com eles. Cada dia de vida é um aprendizado diferente.
Lucas Evaristo (Brasil Ferroviário): Show de bola. Só mais uma. Hehe. Qual o principal tipo de carga que é transportado pela ferrovia americana?
Genilson: O principal tipo de carga transportado é carga geral e carga perigosa, mas o foco da Norfolk é o transporte de carvão mineral. No Sul da Virgínia e etc.
Lucas Evaristo (Brasil Ferroviário): É isso, agradeço muito, te desejo sucesso na carreira e na vida.
Genilson: Um forte abraço e eu que te agradeço. Foi um bom bate-papo.
Prezado Leitor,
Por pedido do Genilson não divulgamos nenhuma fotografia do mesmo, por conta das políticas de privacidade da empresa que o mesmo atual, porém se alguém quiser realizar algum contato diretamente com ele, podemos fazer uma intermediação.
Acreditamos que conseguimos expor de forma bem detalhada como ingressar na ferrovia e ganhamos uma grande experiência com nosso entrevistado. Lembrando que em todos os estágios, a educação e a dedicação teve um papel essencial.
Agradecemos muito ao Genilson pela entrevista concedida.
Atenciosamente,
Lucas Evaristo – Brasil Ferroviário.